sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Mem de Sá, 100 ; por Ana Prieto




Quinta-feira passada, dia 17 de outubro, tive o privilégio de conhecer a DOC Galeria na Vila Madalena. Uma galeria aconchegante e pequena de dois ambientes, que por fora parece uma simples porta de um apartamento qualquer, mas por dentro possui uma exposição de fotografias maravilhosa feita por Ana Carolina Fernandes. A exposição se chama "Mem de Sá, 100", o endereço de um casarão na região da Lapa no Rio de Janeiro, e tem esse nome pois trata de um ensaio fotográfico documental com as moradoras desta casa, prostitutas transsexuais. A fotógrafa, Ana Carolina, conviveu nesta casa por dois anos com as moradoras para completar este ensaio, o que é extremamente perceptível pelo ar cotidiano e pelo conforto das meninas fotografadas. As fotos, para mim, são extremamente sentimentais e sinceras, retratam todo tipo de momento da vida destas pessoas que na maior parte do tempo são rejeitadas pelo restante da sociedade.







As meninas são fotografadas tanto se arrumando e embelezando para seus clientes quanto passando tempo juntas e se divertindo sem preocupações. A artista fotografa com um olhar sem preconceito nenhum, mostrando as garotas simplesmente como seres humanos, e não aberrações, "bichas", ou sub-humanos como muitas vezes são denominadas. Este casarão na Lapa existe com o propósito de abrigar transsexuais marginalizadas pela sociedade, que procuram um lugar seguro onde podem viver e trabalhar, um lugar onde não serão julgadas pelo que são e o que fazem. O fato de mostrá-las vivendo suas vidas normalmente as aproxima muito do espectador, são mulheres normais que escutam música, cuidam de sua saúde, dançam, fazem exercício, se depilam e transam. Esta exposição, para mim, é documentário em forma de fotografias, pois passa uma visão não muito conhecida de uma camada reprimida da sociedade que é normalmente vista de outras maneiras não tão sentimentais, humanas e reais. Cada foto conta uma história de muita luta destas mulheres extremamente fortes, pois mesmo com todas as dificuldades e preconceitos ainda parecem pessoas muito felizes e calorosas.





De 1º a 31 de outubro de 2013
DOC Galeria -Rua Aspicuelta, 662, Vila Madalena, São Paulo.
 De segunda à sexta, das 11h às 13h e das 14h às 19h. Aos sábados, das 11h às 14h.

Fronteiras Incertas



Por Rafael Crespo





Composta de 120 imagens clicadas de 1962 a 2010, a exposições “Fronteiras Incertas”, que acontece no MAC-USP, traça um panorama da produção fotográfica do último meio século, notadamente a partir da virada do modernismo para o contemporâneo, reunindo artistas nacionais e internacionais.

A exposição fotográfica que acontece no MAC reúne grandes nomes da fotografia. Em geral, o que observamos é um rico trabalho realizado por artistas de várias partes do mundo, desde o realismo apresentado por Boris Kossoy na série “Viagem pelo Fantástico”, passando pela exploração do corpo humano, feita por Claudia Andujar e Maureen Bislliat. Uma abordagem narrativa aparece no trabalho de Mario Cravo Neto, em seu ensaio “O Fundo Neutro”. Dentre outras grandes obras, há de se lamentar o núcleo mais experimental, protagonizado por artistas poloneses dos anos 70, um tanto repetitivo, remetendo nossas impressões às experiências já realizadas no modernismo.


Durante a visita à exposição, questionei muito o papel da fotografia como um campo artístico. Apontada como um dos agentes protagonistas na inauguração do modernismo, a fotografia não teve papel de destaque ao longo deste período. As grandes revoluções estéticas ficaram restritas às Artes Plásticas, o que jogou a fotografia, de certa forma, para escanteio. Seu papel agora não consistia em servir às artes, mas ao registro histórico quase que jornalístico. Como a exposição “Fronteiras Incertas” traz muitos trabalhos do início do Contemporâneo, pude perceber que foi neste instante que a fotografia assumiria um papel importante nas artes. Com o esgotamento das experimentações das artes plásticas, a hora dos fotógrafos havia chegado.







Depois que a ousadia de Marcel Duchamp foi exposta ao mundo, a definição de arte tornou-se responsabilidade do artista. Aquilo que ele julga que é arte, é arte. Com o esgotamento estético presente no modernismo, pude ver em “Fronteiras Incertas” artistas buscando, desesperadamente, romper limites e provar que a arte ainda tem caminhos a percorrer (ainda que sem narrativas). Observei, nestes artistas, uma angústia típica do pós-modernismo, parecida com o vazio que se sente ao término de um bom filme ou uma boa viagem. A arte contemporânea não recusa seu antecessor, assim como fez a arte moderna. Talvez por isso os artistas de hoje sejam “órfãos” procurando sua razão de ser.





A fotografia foi um campo muito assediado pelos artistas, que rapidamente migraram para esta plataforma ao perceberem a fadiga em que se encontravam as artes plásticas. Talvez o que há de mais revolucionário na Arte Contemporânea seja de fato a fotografia. É a única instância em que a arte se renovou e se expandiu como meio, neste período. Isto fica muito claro na exposição apresentada pelo MAC-USP. Estas fronteiras incertas, presentes no título, parecem-me dialogar diretamente com a angústia do artista que veio ao mundo depois de Marcel Duchamp. O dadaísta transferiu a estes “jovens” artistas toda a responsabilidade de criar seu próprio julgamento e concepção de arte. Nenhuma fronteira do “o que é arte” está claramente definida. Assim como o título sugere, são incertas. Esta incerteza, ao meu ver, ronda todo o período da Arte Contemporânea. A fotografia é o limiar desta fronteira. É, talvez, o ponto mais alto do subterfúgio destes artistas ao modernismo. 


Gratuito. Terça a Domingo, das 10h às 18h. MAC-USP. Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301, Vila Mariana. Até 27 de julho de 2014.




sexta-feira, 18 de outubro de 2013

STANLEY KUBRICK, por Marina Murad

Primeiramente, quando fui a exposição do diretor Stanley Kubrick não tinha a intenção de fazer a critica de arte sobre esta, por se tratar não de obras de arte, e sim de um agrupamento de documentos e fotos do diretor. No entanto, quando entrei na exposição me deparei com mais do que apenas a vida e obra do autor. Para cada obra da filmografia de Kubrick, havia um espaço com instalações relativas aos temas de cada filme, e para minha surpresa essas instalações estavam na sua maioria bem feitas e bem pensadas. O filme o Iluminado, era exposto em um lugar imitando corredores de hotel, para ver cada obra, era preciso abrir as portas. A música era a do filme, marcando o lugar com certo suspense, e deixando algumas pessoas aflitas quando entravam no lugar, a sensação era que algo iria acontecer. Outra experiência agradável que tive durante a exposição foi durante as projeções dos filmes na parede, e muitas vezes quando você caminha em direção a elas para ir para outro lugar da exposição, parecia que você estava entrando no filme, participando dele.
Outro ambiente que me agradou bastante, foi o do filme De Olhos Bem Fechados, que possuía espelhos e mascaras. Mas o mais interessante dessa instalação, foram as mascaras colocadas para que aqueles que estivessem fora do corredor de espelhos pudessem observar os que estão no corredor. Isso foi muito bem pensando no meu ponto de vista, pois a sensação, a música, o visual contribuíam para a imersão naquele filme e seu conteúdo.
A escolha dessa exposição como critica ocorreu justamente por conta dessas instalações. Vivem em um período da arte, na qual ela pode ser concebida de diversas maneiras, os museus possuem obras, instalações, projetos, vídeo, áudio, obras tradicionais, e o que mais for colocado dentro dele. A arte conceitual, as vídeo instalações, a sonoridade de ambientes são lugares comum na arte contemporânea. Por isso a escolha dessa exposição, que no meu ver pecou muito em conteúdo, no entanto surpreendeu quanto suas instalações, e sensações auditivas e visuais que causaram. Particularmente me decepcionei com a exposição sobre o diretor, pois estava fraca, tudo o que estava exposto são coisas conhecidas e de fácil acesso, grande parte dos objetos de cena não eram originais, e ainda assim eram poucos. Mas com certeza, para os amantes do diretor, como eu, vale a pena conferir o trabalho feito pela direção do MIS que releram os grandes filmes de Kubrick, em ambientes. LOCAL: MIS Stanley Kubrick | Ingressos Online R$ 20 (não há venda de meia-entrada) Ingressos somente antecipados à venda a partir de 1/10 pelo site:www.ingressorapido.com.br Atenção: O visitante que realizar a compra antecipada não pode utilizar o ingresso em outra data que não a requerida. Recepção MIS R$ 10 (inteira) R$ 5 (meia) Ingressos para a mesma data da visitação à venda a partir de 11/10 nos horários: terça à sexta-feiras, das 12h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 19h. Terças-feiras: Ingresso gratuito. exposição / cinema 11out2013 a 12jan2014 terças a sextas, das 12 às 21h; sábados, domingos e feriados, das 11 às 20H