Por Rafael Crespo
Composta de 120 imagens clicadas de 1962 a 2010, a exposições
“Fronteiras Incertas”, que acontece no MAC-USP, traça um panorama da produção
fotográfica do último meio século, notadamente a partir da virada do modernismo
para o contemporâneo, reunindo artistas nacionais e internacionais.
A exposição fotográfica que
acontece no MAC reúne grandes nomes da fotografia. Em geral, o que observamos é
um rico trabalho realizado por artistas de várias partes do mundo, desde o
realismo apresentado por Boris Kossoy na série “Viagem pelo Fantástico”,
passando pela exploração do corpo humano, feita por Claudia Andujar e Maureen
Bislliat. Uma abordagem narrativa aparece no trabalho de Mario Cravo Neto, em
seu ensaio “O Fundo Neutro”. Dentre outras grandes obras, há de se lamentar o
núcleo mais experimental, protagonizado por artistas poloneses dos anos 70, um
tanto repetitivo, remetendo nossas impressões às experiências já realizadas no
modernismo.
Durante a visita à exposição,
questionei muito o papel da fotografia como um campo artístico. Apontada como
um dos agentes protagonistas na inauguração do modernismo, a fotografia não
teve papel de destaque ao longo deste período. As grandes revoluções estéticas
ficaram restritas às Artes Plásticas, o que jogou a fotografia, de certa forma,
para escanteio. Seu papel agora não consistia em servir às artes, mas ao
registro histórico quase que jornalístico. Como a exposição “Fronteiras
Incertas” traz muitos trabalhos do início do Contemporâneo, pude perceber que
foi neste instante que a fotografia assumiria um papel importante nas artes.
Com o esgotamento das experimentações das artes plásticas, a hora dos
fotógrafos havia chegado.
Depois que a ousadia de Marcel
Duchamp foi exposta ao mundo, a definição de arte tornou-se responsabilidade do
artista. Aquilo que ele julga que é arte, é arte. Com o esgotamento estético
presente no modernismo, pude ver em “Fronteiras Incertas” artistas buscando,
desesperadamente, romper limites e provar que a arte ainda tem caminhos a
percorrer (ainda que sem narrativas). Observei, nestes artistas, uma angústia
típica do pós-modernismo, parecida com o vazio que se sente ao término de um
bom filme ou uma boa viagem. A arte contemporânea não recusa seu antecessor,
assim como fez a arte moderna. Talvez por isso os artistas de hoje sejam “órfãos”
procurando sua razão de ser.
A fotografia foi um campo muito
assediado pelos artistas, que rapidamente migraram para esta plataforma ao
perceberem a fadiga em que se encontravam as artes plásticas. Talvez o que há
de mais revolucionário na Arte Contemporânea seja de fato a fotografia. É a
única instância em que a arte se renovou e se expandiu como meio, neste
período. Isto fica muito claro na exposição apresentada pelo MAC-USP. Estas
fronteiras incertas, presentes no título, parecem-me dialogar diretamente com a
angústia do artista que veio ao mundo depois de Marcel Duchamp. O dadaísta
transferiu a estes “jovens” artistas toda a responsabilidade de criar seu
próprio julgamento e concepção de arte. Nenhuma fronteira do “o que é arte”
está claramente definida. Assim como o título sugere, são incertas. Esta incerteza,
ao meu ver, ronda todo o período da Arte Contemporânea. A fotografia é o limiar
desta fronteira. É, talvez, o ponto mais alto do subterfúgio destes artistas ao
modernismo.
Gratuito. Terça a Domingo, das 10h às 18h. MAC-USP. Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301, Vila Mariana. Até 27 de julho de 2014.
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