sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Fronteiras Incertas



Por Rafael Crespo





Composta de 120 imagens clicadas de 1962 a 2010, a exposições “Fronteiras Incertas”, que acontece no MAC-USP, traça um panorama da produção fotográfica do último meio século, notadamente a partir da virada do modernismo para o contemporâneo, reunindo artistas nacionais e internacionais.

A exposição fotográfica que acontece no MAC reúne grandes nomes da fotografia. Em geral, o que observamos é um rico trabalho realizado por artistas de várias partes do mundo, desde o realismo apresentado por Boris Kossoy na série “Viagem pelo Fantástico”, passando pela exploração do corpo humano, feita por Claudia Andujar e Maureen Bislliat. Uma abordagem narrativa aparece no trabalho de Mario Cravo Neto, em seu ensaio “O Fundo Neutro”. Dentre outras grandes obras, há de se lamentar o núcleo mais experimental, protagonizado por artistas poloneses dos anos 70, um tanto repetitivo, remetendo nossas impressões às experiências já realizadas no modernismo.


Durante a visita à exposição, questionei muito o papel da fotografia como um campo artístico. Apontada como um dos agentes protagonistas na inauguração do modernismo, a fotografia não teve papel de destaque ao longo deste período. As grandes revoluções estéticas ficaram restritas às Artes Plásticas, o que jogou a fotografia, de certa forma, para escanteio. Seu papel agora não consistia em servir às artes, mas ao registro histórico quase que jornalístico. Como a exposição “Fronteiras Incertas” traz muitos trabalhos do início do Contemporâneo, pude perceber que foi neste instante que a fotografia assumiria um papel importante nas artes. Com o esgotamento das experimentações das artes plásticas, a hora dos fotógrafos havia chegado.







Depois que a ousadia de Marcel Duchamp foi exposta ao mundo, a definição de arte tornou-se responsabilidade do artista. Aquilo que ele julga que é arte, é arte. Com o esgotamento estético presente no modernismo, pude ver em “Fronteiras Incertas” artistas buscando, desesperadamente, romper limites e provar que a arte ainda tem caminhos a percorrer (ainda que sem narrativas). Observei, nestes artistas, uma angústia típica do pós-modernismo, parecida com o vazio que se sente ao término de um bom filme ou uma boa viagem. A arte contemporânea não recusa seu antecessor, assim como fez a arte moderna. Talvez por isso os artistas de hoje sejam “órfãos” procurando sua razão de ser.





A fotografia foi um campo muito assediado pelos artistas, que rapidamente migraram para esta plataforma ao perceberem a fadiga em que se encontravam as artes plásticas. Talvez o que há de mais revolucionário na Arte Contemporânea seja de fato a fotografia. É a única instância em que a arte se renovou e se expandiu como meio, neste período. Isto fica muito claro na exposição apresentada pelo MAC-USP. Estas fronteiras incertas, presentes no título, parecem-me dialogar diretamente com a angústia do artista que veio ao mundo depois de Marcel Duchamp. O dadaísta transferiu a estes “jovens” artistas toda a responsabilidade de criar seu próprio julgamento e concepção de arte. Nenhuma fronteira do “o que é arte” está claramente definida. Assim como o título sugere, são incertas. Esta incerteza, ao meu ver, ronda todo o período da Arte Contemporânea. A fotografia é o limiar desta fronteira. É, talvez, o ponto mais alto do subterfúgio destes artistas ao modernismo. 


Gratuito. Terça a Domingo, das 10h às 18h. MAC-USP. Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301, Vila Mariana. Até 27 de julho de 2014.




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